O Sujeito não envelhece
Trata-se de uma obra da psicanalista brasileira Ângela Mucida. O livro foi publicado pela primeira vez em 1999, pela editora Escuta, e desde então vem sendo uma referência importante nos estudos sobre a relação entre a psicanálise e o envelhecimento.
O livro é dividido em três partes. Na primeira parte, intitulada "A questão da velhice", a autora apresenta um panorama geral sobre o envelhecimento e suas implicações. Ela discute questões como a invisibilidade social dos idosos, a importância da memória, a relação entre o corpo e a sexualidade na velhice, entre outras.
Na segunda parte, "A psicanálise e a velhice", Mucida explora a relação entre a teoria psicanalítica e o envelhecimento. Ela discute conceitos como o narcisismo, a pulsão de morte, o luto, a transferência, entre outros, e mostra como eles podem ser aplicados ao estudo da velhice.
Já na terceira parte, "A clínica da velhice", a autora apresenta casos clínicos e reflexões sobre a prática psicanalítica com pacientes idosos. Ela mostra como, por meio da escuta atenta e do respeito à singularidade de cada sujeito, é possível ajudar os idosos a lidar com as dificuldades que surgem ao longo do processo de envelhecimento.
Uma das principais contribuições do livro é a forma como a autora aborda a questão da temporalidade na velhice. Mucida argumenta que o tempo não é apenas uma dimensão física, mas também psicológica, e que a relação que cada sujeito estabelece com o tempo é fundamental para compreender sua forma de lidar com o envelhecimento.
Dessa forma, ela mostra que a psicanálise pode ajudar os idosos a lidar com a angústia da finitude, a aceitar as perdas inevitáveis e a encontrar novos significados para sua vida. Segundo a autora, o processo de envelhecimento pode ser uma oportunidade para o sujeito se reinventar, para refletir sobre sua trajetória de vida e para se reconectar com aspectos mais profundos de sua subjetividade.
Outro aspecto interessante do livro é a forma como a autora aborda a questão da sexualidade na velhice. Mucida argumenta que, embora muitas vezes seja negligenciada pela sociedade em geral, a sexualidade é uma dimensão fundamental da vida humana, que não desaparece com o envelhecimento. Ela mostra como a psicanálise pode ajudar os idosos a lidar com as mudanças que ocorrem em sua vida sexual, a compreender suas fantasias e desejos, e a encontrar novas formas de expressão.
Além disso, a autora também discute a questão da solidão na velhice e a importância das relações interpessoais para o bem-estar do idoso. Ela mostra como a psicanálise pode ajudar os idosos a lidar com a sensação de abandono e a encontrar novos vínculos afetivos, seja por meio da família, dos amigos ou de grupos de convivência.
Um dos principais pontos abordados pela autora é a importância da memória na construção da identidade do sujeito. Segundo Ângela Mucida, a memória é um elemento fundamental para a formação da subjetividade humana, e sua relação com o envelhecimento é complexa e multifacetada. A autora argumenta que a memória não é um processo linear e estático, mas sim um processo dinâmico e em constante transformação, que é influenciado por vários fatores, como a idade, o contexto social e cultural em que o sujeito está inserido, e a própria história de vida do indivíduo.
Outro tema central do livro é a relação entre a identidade e o envelhecimento. Ângela Mucida argumenta que a identidade não é algo estático e imutável, mas sim um processo dinâmico e em constante transformação. A autora explora a ideia de que a identidade é construída a partir das experiências vividas pelo sujeito ao longo de sua vida, e que a velhice pode ser um momento de reavaliação e reconfiguração dessa identidade.
Além disso, o livro aborda a questão da morte e da finitude, que são temas frequentemente associados ao envelhecimento. Ângela Mucida argumenta que a morte não deve ser vista como um evento isolado, mas sim como parte integrante do processo de vida. Ela enfatiza a importância de se lidar de forma saudável com a finitude e de se reconhecer a importância da morte como parte natural do ciclo da vida.
Em resumo, "O sujeito não envelhece - psicanálise e velhice" é uma obra fundamental para todos aqueles que se interessam pela relação entre psicanálise e envelhecimento. A autora apresenta conceitos e reflexões valiosas sobre a questão da temporalidade, da sexualidade, da solidão e das relações interpessoais na velhice, e mostra como a psicanálise pode ser uma ferramenta valiosa para ajudar os idosos a lidar com os desafios que surgem ao longo do processo de envelhecimento.
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